ANTÓNIO SALVADO: DA
POESIA, OU TEURGIA, COMO A TAUMATURGIA
«O homem é um actor
de Deus no palco do Universo.»
Jacob Levy Moreno
LIMIAR
Em crítica acribia, bem recta e
escorreita, aqui eu faço a pergunta por a Palavra, liberal, de António Salvado.
Interroguemos, na jorna, a Esfinge e o fingimento de António Salvado. Pois com
Palavras se faz a nossa habitação. A Língua, segundo Heidegger, é a Casa do Ser;
colega ou legente, a Língua religa – e as Letras, cá em baixo, elas reflectem,
ou repetem, as Estrelas, no Céu. Quero eu dizer: labora, o António, com as
«fôrmas», ou formas, do Espírito Absoluto… Pois Apóstolo, espiritual ou Epopta,
nós assim acarinhamos o António Salvado – e é dele a ciência dos tópicos e
tropos. Ou melhor: dos Arquétipos, arcaicos e tipos Arcanos. E da Música, o
Museu e o Templo das Musas. Do arquivista, Arquitecto, da Arqueologia do Ser.
Pois postado aqui à porta, e entre os deuses e os homens, socorremo-nos, agora,
socorremo-nos, no lustre, do Heidegger ilustre: para o germano, desse modo, o
pensador diz o Ser – e o Poeta, dessarte, ele nomeia o sagrado. Saboreamos,
desse modo, o António Salvado – e nós sabemos, nós outros, que o divo Artista é
artilheiro. Ele é soldado, curial, no Exército do Verbo. E sem rebuço, e sem
disfarce, ele publicou, organizou, publicitou, «Anunciação e Natal na Poesia
Portuguesa» ( 1968 ), «A Paixão de Cristo na Poesia Portuguesa» ( 1969 ), e,
ademais, «A Virgem Maria na Poesia Portuguesa» ( 1970 ). Quero eu dizer: muito
mais que em qualquer outro, aqui se propala, aqui se propaga, uma Ontologia, ou
Teologia, dos poéticos valores. Pois forte e fértil, em firme Firmamento,
Isidoro de Sevilha o assertava dessarte: na Antiguidade Clássica, os «teólogos»
são Poetas, apologetas, dos valores religiosos da cidade, os que defendem,
providentes, o panteão do seu povo. Sempre, sempre entre a porta e o porto – e recebendo,
dos deuses, pra doarem aos homens – e assim o Vate é Vaticano, assim se
aprende, e compreende, «A Flor e a Noite».
E dissertamos, sem dolo: a
Lusitânia, em Salvado, é uma citânia de Luz. Devolvendo, à parábola, o papel
que ela ocupava entre os povos antigos: e aqui eu falo, outrossim, da
hierofania, da alegria fantástica das alegorias. Se a linguagem deste Poeta é
qual Ágora, agora, o grego dos Setenta traduz «sonho» por «extasis» - e
equipara-se, o sono profundo, a um estado místico factual, e portanto fundamental.
Queremos dizer: a Poesia, pra Salvado, é profissão de Fé. Ou diríamos, em vez
disso, um solene Sacerdócio? A Poesia, no Arcano, a Magia ou Teologia, uma
«ekstática» insistência na Verdade do Ser. E em firme Firmamento, é tempo de
afirmar: se o sonho, dessarte, é uma pequena loucura, a loucura, no Espírito, é
um grado e grande sonho. Ou melhor: se o sonho é, para o indivíduo, um Mito
particular, o Mito, oblativo e colectivo, o Mito não é mais do que o sonho dum
povo. Ou em parábolas primeiras do nosso Poeta: a Poesia, afinal, é uma
«Difícil, estreita passagem, / força quente perscrutada / corpo de névoa, de
imagem / com sulcos de tatuagem, / voz absoluta escutada». Esse, desta sorte, o
hermetismo. Minha quermesse, ou hermenêutica: como em Somerset Maugham, a
Poesia é uma difícil, estreita passagem por «o fio da navalha». E
esquadrinhando a quente força, que se vela em «Bateleur», o corpo é de névoa,
de bruma ou de imagem – mas os fantasmas são mais fortes, e mais pesados do que
as pedras. E a tatuagem, teurgia, significa o tutear, tipifica o tutelar, e é
«persona» exibida por um certo inconsciente para lograr, ou iludir, a sanção do
Super-Ego. Matricial e maternal, matéria de coturno, matéria de coturno e não e
nanja de soco. E o que é, afinal, a vez escutada, a verve absoluta, senão a
voz, lilial, do Espírito Santo??? O pensamento, aqui, é movimento – e como é
facto, e como é feito, o Eu, de Salvado, ele move o não-Eu, por meio da
faculdade imaginativa – e o «mensonge», e a mentira, ela é verdade, matricial,
de uma grande mascarada. Aqui se trata, portanto, do fetiche e fantoche, da feeria,
ou fantasma, de António Salvado. Sabendo, como Aristóteles, sabendo, malabar, que
a Poesia, afinal, é mágica lanterna, que «em todos os seres da Natureza existe
um pouco de maravilha». Ou na voz, vitoriosa, do nosso Poeta: «Cedo as luzes
extintas / das casas da cidade / e o transeunte sozinho / nas pedras da calçada
// A perene presença / de qualquer voz serena / que a cada instante surge /
vivificando os dias // e a derramar em tudo / harpejos de alegria», e eis o
esperto, e a esperança, do Espírito Paracleto.
O Estilo, entanto, é o homem.
Seguindo e segundo o Peripatético, o homem, de hombridade, é animal racional,
ele é Alma, portanto, provida de «Logos». Na razão, por isso, animada, Salvado
é movido por o Entusiasmo, é eduzido, conduzido, e suflado por o divino – e estamos
próximo, aqui, do teurgo e do teatro, do êxtase e do sonho em «terra sigillata».
A terra na qual ele é rapsodo e jogral. Se esse jogo, do jogral, é contra o
jugo, eu considero, o Salvado, como o ledo «Homo Ludens». O praticante, oficiante,
da simbólica função. Irmanada, alfim, a Ludoterapia, à leiva e à liga da Logoterapia.
Ou professando aqui a «schola» como o recreio, o lazer e o princípio do prazer.
É que Ensino Superior é ensino soberano – e não era, Museu, discípulo de Orfeu???
Que através das signas ensina o Salvado. Ou no escólio joanino, sereis, veramente,
discípulos do Cristo, conhecereis a Verdade – e a Verdade, alfim, vos
libertará. Ou em livros libertos: plasmados por o Verbo, a caminho do Pai, no
escol e na escola de Santa Maria. Memorando, por isso, a adiafa, celebremos, o
Ágape, em Ágora, agora. Como diz, e aduz, o nosso Profeta, «Maravilhas ocultas
/ no vadiar do tempo / o silêncio um murmúrio / uma brisa ou o vento // o broto
renascido / a flor anunciada / uma folha caída / da sossegada árvore // O céu
azul aberto / às aves que o percorrem / quando uma nuvem erra / subitamente
informe», e eis o germe, e a lição, da ginástica visão.
Realço e alço, em António Forte
Salvado, a infância sempiterna e uma d’Alma nobreza. É que faz, o Poeta, a sua
menagem, à «flor anunciada» e ao «broto renascido». Não só, aqui, a lavra já
feita, mas a cultura, por fazer, da Língua Portuguesa. Aqui eu trago, à
colação, Aniel Iannini, professor e professo da Universidade de Milão: é que «a
poesia verdadeira é sempre novíssima», é de espanto a admiração, e o Poeta está
sempre em idade escolar. Porque foi, dessarte, o mirar, porque foi a admiração,
que os homens levou à Filosofia. Em hermenêutica breve, e por isso muito leve:
anela, a criança, a fidelidade – e apela, o adulto, ao adultério, apelam,
seniores, ao esquecimento do Ser. Depois de treze lustros, está, no recreio,
António Salvado, e continua, o Profeta, em estado de Graça… Angélica,
evangélica Palavra: se não formos como os meninos, não entraremos, rectos e
escorreitos, em Reino do Céu. Que é da criança a criação, é do jogral o
estádio, ou estágio, mágico-simbólico; assim o crismou, no jogo, o Jean Piaget.
Acataremos, dessarte, e aceitaremos, na Sorte: em anagrama, ou hinário, o
grimório é do Hermes, o irónico é onírico. Quer dizer: os Mistérios de Orfeu
bem acoplados, ou ligados, aos Mistérios do Egipto. Sempre e sempre e sempre associados
ao Apolo, à «poiesis», à língua dos deuses. Pelotiqueiro é pois Mercúrio, filho
de Zeus e de Maia, ele medeia, ou faz a ponte, entre o Céu e a terra. O que é,
entretanto, a Kabbalah fonética??? Redargue, rapsodo, António Salvado: é «O céu
azul aberto / às aves que o percorrem». Sapiente, ou sabedor, da sápida
ciência, da «indissolubilidade de som e sentido» identificada, por Valéry, no
estro da Musa. Que me seja permitida uma autocitação: «Se a mulher é pois
morada, e a casa do homem, a Eclésia é qual a casa, e a causa de Deus.» Ou
estoutra, outrossim: «O génio, dessarte, é aquele que gera, independentemente
dos órgãos e dos genes que a Madre Natureza destinou à geração»: é que a Palas,
ou Minerva, foi nada e nativa do crânio de Zeus. Pois qual a purga, e a
sangria, a Palavra é pois alento, medicamento, e alimento preste. E aqui eis,
na verve, os Estudos Gerais, e aqui se compreende o papel de Salvado como o
guia, dessarte, ou Educador. Ou melhor: no corpo místico de António, o seduzir
é induzir e logo, logo o conduzir, é eduzir, o crianço, pra fora da lura e por isso
do Leteu, pra fora, dessarte, do ramerraneiro. Por isso António é de Eleutério,
por isso induz, o seu ledor, às Artes Liberais. Quereis, portanto, acabar com
as prisões??? Construam, no carme, construam as Escolas, e nelas doutrinando, os
doutores e varonis como António Salvado.
Salvado, afinal, Amigo do ABC –
e, por isso mesmo, do refusado, rebaixado e «abaissé». Catedrático, lilial, em
Liberdade, ou liberalidade, Salvado publicou, organizou, publicitou, Autores e
Actores como José Régio, Afonso Duarte, Carlos de Oliveira, Branquinho da Fonseca,
Jorge de Sena, Fernanda Botelho, David Mourão-Ferreira, Fernando Echevarria,
João Rui de Sousa e Teixeira de Pascoaes. Fez a menagem, no seu tempo, a Mário
Cesariny, Fernando Pessoa e António Maria Lisboa. E salvou, do olvido, o Ângelo
de Lima, o ( ev )angélico qual o Anjo de William Blake. Ou como quem diz: voam
juntas, e felizes, as aves, liliais, da mesma plumagem. E no grande Café Gelo,
e nas «Folhas de Poesia», comensal, no convívio, foi António Salvado dos nomes
e dos Numes: e aditamos, na cita, Herberto Helder, José Carlos González, José
Sebag, o António José Forte, Luiz Pacheco, dessarte, e Raul de Carvalho. Fastas
«Folhas de Poesia» de que se publicaram, quatro números, entre 1957 e 1959. Pois mais e muito mais que o Liceu Aristotélico,
funcionou, pra Salvado, o Café Gelo, como o livro e a lavra, Universidade
Livre. Ensino Superior ou Ensino soberano??? O signo, de feito, libertário. Sempre
em busca da meta, da metáfora, da mental Poesia preste. E ensinando, ao mundo culto,
a volição de Kierkegaard: o que faz falta, à nossa época, não é a reflexão, mas
sim a paixão; ela é consóror do patético, passional, e também da simpatia. Que
o mesmo, agora, é dizer: no cenáculo, ou Psicodrama, é lídimo o ledor, e encena
Salvado as suas imagens. À frente do espelho, do espécime e espectacular. Na
«Katharsis» de Aristóteles, isto é, nas Catarses do Sigmund Freud, de Josef
Breuer, de Jacob Levy Moreno e, jornadeando, do Pierre Janet. Este último um
artífice, artesão, da Psiquiatria dinâmica. Avocamos, por isso, a Bertha
Pappenheim, e por isso praticamos uma ab-reacção. Por isso falámos, mais atrás,
da Ludoterapia, sempre aliada, ou ligada, ao jocoso, ao jogral e à Logoterapia.
Remembramos, no lance, Max Scheler: a emoção, da Simpatia, é qual metáfora e Amor
duma Ontologia. Ou seja, da ciência, luminar, do Ser enquanto Ser, ciência
arcaica, e arcana, dos princípios primeiros. Como assinala, certeiro, J.
Cardoso Duarte, o Eu «ex-siste» no «outro, mostra o outro em mim e me mostra no
outro»: na «enérgeia», ou sinergia, continuamos a falar do generoso Café Gelo.
Se o nosso António, aqui, é inteligente, ele é que lê, no artefacto, e no
arteiro interior – e a Artemísia, ou artimanha, é feita com Arte. Como engenho,
como «ingenium», e generativa. E é altura, agora mesmo, é tempo de indagar: o
Artista imita a vida, ou a vida imita a Arte??? Seja como for, as palavras são
naus, e a «Mimesis» aqui surde aliada à «Mathesis» - e esse o escopo, e a
escola, de António Salvado. Em nossa reza, portanto, e razoar, ouçamos o que diz,
o Autor, em «Cicatriz»: apresentando, presenteando, e aprimorando a «Amizade»,
«Uma criança muito suja atira pedras a um cão. O cão não foge. Esquiva-se e vem
até junto da criança para lhe lamber o rosto. Há, depois, um abraço apertado,
de compreensão e de amizade. E lado a lado», meu Deus, «lá vão pela rua estreita,
em direcção ao Sol».
E muita Paz, e muito Bem. Aluz,
na lembrança, o filosofema: «Quanto mais conheço os homens, mais gosto do meu
cão». Este poema revela, na «alêtheia», o Amor e a amizade por o senciente, o
sensitivo e todo o ser vivo – e bastaria o teor, o comento franciscano, pra
aquilatar, Salvado, como o divo cristiano. Aquele que faz, por isso mesmo, a
templação da Teoria, contemplação, alcandorada, da Bondade, da Beleza e da Verdade.
Que o pensar, por isso mesmo, é
pôr o penso, é pesar as palavras na balança de Témis; por isso com-pensa, no
Thoth, por isso com-pensa a Palas Atena. Que o comento e a mente de António
Salvado é qual a mão que mensura – e o «Manas» é Minerva no Génio verdadeiro.
Se o Poeta significa, e ele dignifica a Catarse, o expressar é pois prensar, o
exprimir é espremer o pus e o fel da ferida narcísica. O Profeta, dessarte, é
aquele que profere, é aquele que professa, Professor, a ex-centricidade do Ser.
E já o dissemos: o intelecto que lê, o intelecto que aluz no arteiro interior……………….
NO CORAÇÃO DO SANTUÁRIO
Altíssima Metafísica, a
Ontologia, por isso, é irmã da Teologia. E aduz José Marinho: «Filosofia.
Ensino ou Iniciação?» E o mesmo indicaremos, o mesmo indagaremos, nós outros,
da Poesia, ou Teurgia, de António Salvado. Pois quer a Poesia, quer a Teologia,
são saberes desinteressados, e a Filosofia, para Aristóteles, é a mais
universal, desinteressada e gratuita de todas as ciências – e Metafísica é da meta,
e Metafísica é por isso Filosofia primeira. «Com a filosofia», aluz Heidegger,
«não se pode fazer nada», não se pode fazer nada no sentido utilitário;
poder-se-á fazer muito, embora, no sentido teorético, ou especulativo. Se o
saber filosófico, se a poética Palavra, é livre em sua essência, só a Filosofia
é, segundo o Estagirita, «ciência da verdade» em estrito sentido. E queremos
aventar: bem longe e apartado da razão geométrica, na Poesia de Salvado se
expecta, esperançoso, o «esprit de finesse». Memoremos, em Minerva, e lembremos
Schopenhauer: se o mundo fenomenal é «Maya»
para os hindus, e princípio de razão, se encontra e conta, em António Salvado,
o Arquétipo, arcano, e arquivo da Ideia – e não estamos, aqui, e não estamos
muito longe do agónico Jung; a «agonia», para os gregos, é «luta nos jogos,
combate, exercício em geral», pois é, o argonauta, para o protagonista, e o
Reino dos Céus se toma de assalto. Dissertava e acertava o teutónico Hegel:
quer a Arte, quer a Religião, quer a Filosofia, são as expressões, ou lugares,
do Espírito Absoluto, e queria o Hegel sugerir: na Filosofia, na Religião e na
Arte é que vive, o criador, em estado de Graça. E historiemos, nós outros,
historiemos a estese: em 1955, se estreava, António, com «A Flor e a Noite» -
mas esse verso é criador, é veloz-criacionista, tem a voz e a vez do grande Herberto
Helder. Revertamos, agora, um pouco mais atrás: a palavra com que os avitos
Romanos traduziram, em Latim, o termo «Theoria», é o deveras «contemplatio». «Theoria
id est contemplatio»: assim reza, dessarte, a tradução latina do Peripatético.
E viva, aqui, o «Homo Ludens». Se
as palavras são um jogo, se nós falámos, mais atrás, da Ludoterapia, nos aparta
e afasta, o «divertissement», do letargo e do Leteu. E «divertir-se» significa,
em sentido etimológico, o «distrair a atenção, o desviar-se» do jugo – e é o
recreio, a pantomima e a recreação. Como a que teve, o António, no Coro da Academia
dos Amadores de Música; o Fernando Lopes Graça, gratuito, o Fernando Lopes
Graça o forjava gracioso – e já sabia, Salvado, já sabia, o seu coral, de cor e
coração. Diria Santo Agostinho, o Bispo de Hipona: quem canta, cordial, é porque
reza duas vezes. E eis aqui a Magia, ou Teurgia, eis a Música, o Museu e o Templo
das Musas. Pois divisamos, desta sorte, e avisamos: homem de prol, e de
coturno, ele é, de feito, Francisco Tavares Proença Júnior ( 1883 – 1916 ). Que
é Teurgo, em Salvado, o grego «dêmiourgós»; se a Teurgia, por isso, é mágico
trato, se faz, o Teurgo, uma operação divina, o publicista, ou Demiurgo, é «o que
trabalha para o público, artífice, operário manual». Queremos assertar: no arauto
e altar, o artista, o artefacto, e por isso o artilheiro – e o paládio,
paladino e a Palas Atena. Falta aduzir, e declarar, que o vocábulo «Metafísica»
é, na origem, locução adverbial de lugar: onde acabam, entanto, os livros da
Física, começam, portanto, os Metafísicos livros. E citemos, nós em broto,
Sampaio Bruno: «Quanto aos portugueses, não quiseram saber da Metafísica na
filosofia; mas da Metafísica os portugueses quiseram saber na matemática e na poesia».
Queremos dizer: no escol e na escola da Sabedoria, o objectivo e o escopo da
Poesia teológica será, em Salvado, o Ser enquanto Ser. Mais um poucochinho e aditemos,
na cita, o Livro do Êxodo: «Moisés disse a Deus: ‘Eis que eu vou ter com os
filhos de Israel e lhes digo: O Deus dos vossos pais enviou-me a vós.’ Eles dir-me-ão:
‘Qual é o nome dele?’ Que lhes direi eu?’ Deus disse a Moisés: ‘Eu sou Aquele
que sou.’» Reiteramos, por isso mesmo: se o Vate é Vaticano, um Profeta é,
antes do mais, uma «persona», que fala em nome de, que transmite, ou transporta,
a Palavra de Deus. Que em portuguesa, e superna, Filosofia, dizer que
Literatura é produção do inconsciente é o mesmo que inferir: letradura é
expressão do preternatural.
António Forte Salvado, afinal, qual
o médium, medical, do Verbo divino. E se as palavras, aflantes, são portadoras
de Numes, se a Psicologia, de Salvado, é qual a fala da Alma, ouçamos, caroais
e caroáveis, o «Salmo com Gratidão» do nosso albicastrense: «Louvor à claridade
inicial, diáfana, levemente colorida, após o desalento amorfo e confuso da
noite interminável, louvor à confiança ilimitada, ardente e exaltante, na
boa-ventura da sucessão do tempo, mistério que nos traz agora e que para outro
mistério nos leva – e que esse ir e vir seja sempre realizado com amor.» Pois
este é o «topos» onde vive a Teologia, ou melhor, «onde possa edificar a casa
da poesia». Poeta-porto, poeta-porta, poeta-clave, a chave que nos leva à «Flor
Álea» de Alumbrado. Não foi, deveras, o António Salvado, quem dirigiu,
coordenou e organizou, em 1972, as «Orações dos Primeiros Cristãos»??? Orações
do vasto início, quero eu dizer, iniciáticas, laborações e orações em conúbio
com o Sol. Se o Simpósio, em Salvado, ele vai haurir, e vai beber, a Dilthey,
Unamuno e Ortega y Gasset, ao «more geometrico» ele há-de opor, e propor, a
religião vitalista ou vitalista razão. A Poesia, por isso, é existencial, ou
melhor, é hermenêutica mundana e do meu estar-no-mundo. E continua, colaço, o nosso
Poeta: «Louvor às palavras, admirável criação, que me deixam dizer louvor e,
ainda, muitos outros sentidos de ternura.»
Pra acabar, cordato, com chave de ouro: «Grato a Ti, Senhor, por em cada
instante me re-ensinares a manter-me sob a Tua luz, com fé maior e com a mais
viva esperança.» Pois crer, dessarte, e querer: e eis, aqui, o sagrado, e eis o
segredo de António Salvado.
Salvado que é, à imagem, sacral,
de Sua Santidade Bento XVI, cooperador, colaborador, na Obra da Verdade – pois ele
ora, e labora, no Verbo caroável, na Vinha do Senhor. E tem, o operário, direito
à jorna, ao jornal, à apostólica jornada. Por a Palavra é dada ao homem a
redentora possibilidade de cooperar, pois, com Deus, no projecto criacionista:
se a oração é de acalanto, essa oração é portanto uma Arte das Letras. Que o
nosso Poeta difunde, e ele defende, o Salmo e o almo, a Boa Nova nitente. Pois
passou, Salvado, por o Carmelo, a «Noite Escura» e obscura de S. João da Cruz.
«Ad augusta», por isso, «per angusta», «fortuna favet fatuis» - e só assim
entenderemos que António Salvado ocupe, em Salamanca, a Cátedra, Poética, «Fray
Luis de Léon». Pois coevo do Camões, e magnânimo Professor na Universidade de
Salamanca, Frei Luis de Léon foi qual Poeta e Humanista, o Religioso Agostinho
das almas quixotescas. Doutor, dessarte, em Teologia, Mestre em Artes, portanto,
e Filosofia, plantou, o professo, a boa Palavra, e encarnou, Salvado, o Frei Luis
de Léon. Ou melhor: à força de exercer, na semente, o ministério, acabou,
Salvado, por magicar o magistério; sua raiz é portanto o ministério menestrel.
Se tratámos, mais atrás, dos tópicos e tropos, aditemos na adiafa: na língua,
peninsular, dos novilatinos, apanágio são os tropos do Poeta trovador. E mais,
e muito mais do que a comunicação, é «communio», comunhão, o escol e a escola
de António Salvado. Quero eu dizer: em vez do senso literal, ou denotativo, se
alicerça, o António, em nota, notária, do conotativo. Como quem diz: em vez da
marcha militar, divisamos aqui a dança, e a Musa malabar. E visamos aqui o
dote, e o destino de Orfeu. Dividindo bem o Logos, à guisa de Empédocles, distribuindo-o,
mais e mais, pelas nossas entranhas. Seguindo e segundo María Zambrano, «nem só
de pão vive o homem» equivale a dizer: o homem não vive, tão-só, da Ciência e
da Técnica, o homem ultrapassa o razoar positivista. Ver, dessarte, para crer:
e aqui se estrutura a Ciência experimental: mas felizes, portanto, os que crêem,
sem nunca terem visto. Nossa Fé, diz a «Carta aos Hebreus», é «o firme
fundamento das coisas que se esperam, e
a prova das coisas que não se vêem». Ou seja: no episódio de S. Lucas, entre
Marta e Maria, Salvado escolhe a maga, e a mística Maria. E ele prefere, e ele
requer, a Filologia, Magia ou Metaciência – e as imagens, os mitos, as metáforas,
o nascimento, ou «co-naissance», de António Salvado. Sendo assim, se o gerador
é genial, a Gnose apela à génese, e é genuína, generosa, a Palingenesia……………….
PARALIPÓMENOS
E muito, muito bem: pra
entendermos, melhor, António Salvado, remembremos, na cita, «Ao Encontro da
Palavra» do Padre Manuel Antunes – e ele nos fala, adrede, da minha «condição
de ser «in-sistente» no mundo e do mundo «ex-sistente». Como a planta ou como o
animal, o homem mergulha no mundo ( «in-siste» ), lança raízes na terra,
oculta-se. Mas, contrariamente à planta ou ao animal, o homem ergue-se acima do
mundo ( «ex-siste» ), emerge da terra, transcende» - e assim o conotava o
grande Jesuíta. Nós queremos dizer: na solerte «alêtheia», com uma das mãos
inda vela o Poeta – e com outra, manipresto, ele desvela a Verdade. Ou melhor,
no pundonor: contra o Letes, o olvido, o esquecimento do Ser, se alevanta, leda
e leve, a «alêtheia» do letrado. Ouçamos, por isso mesmo, as duas últimas
quadras duma «Oração a Lilith»: «Deidade transformada em feiticeira, / não sei
como te orar: que sacrifícios / exiges nesse reino onde culteias / e entregas a
nudez calma agressiva… / Confluência de sombra e claridade / sedentas no
esplendor liso do ventre: / és a origem que não tem idade, / o mistério
inefável para sempre.»
Que a mulher, pra Salvado, é
sortilégio, ela é Maga, meigueira e portanto feiticeira. Pois indo, adrede, à
história das palavras, o hino, e o canto, se ligam, deveras, ao carme e ao
charme – e o hinário himeneu é o rompimento do hímen. Não tenhamos, por isso,
medo de afirmar: o astro e o estro, em António Salvado, é qual a estrofe e o
estrogénio, ele é Vénus Vinália, Vénus venusta e também o venusino. Pensamos,
por isso, o seguinte e o requinte: como cidadão da Pátria, ou da plaga, portugalaica,
cumpre, deveras, António Salvado, o seu dever de patriota – mas, tomado por o
Furor, ele sonha, ele ex-siste, e ele está fora de si. Tal como pra Platão, no
«Íon» e no «Fedro», Poesia, pra Salvado, é forte hieromania, é mania como a
vemos n’ «As Bacantes» de Eurípides. Ou na festa dionisíaca donde mana a
tragédia. Clemente de Alexandria, ele tinha toda a razão: essa «mania», deveras,
é sagrada e é secreta, e hierodrama é a trama da hierofania. Por isso é pois, o
Salvado, o Hierogramatista, ele cultua, no teor, a «Tékhne Grammatiké». Ou
melhor: ele é Mago e maiêuta, ele doutrina, e ensina, através de Sóis e signos –
e através, na signa, do selo e sigilo. E como sucedeu, outrossim, com Carl
Gustav Jung, a História da vida de António Salvado é a do seu Inconsciente – e ele
cumpriu, deveras, a sua missão. Que ele da parte passou ao todo, do incônscio
pessoal ele passou, recto e escorreito, para o lectivo, colectivo Inconsciente.
E titularemos, adrede, o orbe e a Obra de António Salvado: «Introdução à
Essência da Mitologia». Ou melhor: representações, na Alquimia, de símbolos,
arcaicos, e génios arcanos. Como os que se encontram no jogo do Tarot. Que a
Poesia, face a isso, não serve para nada??? Ela é Catarse, ela é limpeza, e é
moral desinfecção. Partamos, selecto, partamos da seguinte proposição: António
Salvado não só é génio, como é assistido, em Graal e graça, por os génios do
Bem. Ouçamos pois o charme, ouçamos o carme de António Salvado: «Cantarei
porque a terra está madura / e as papoulas namoram as cigarras / e as madressilvas
trepam pelos muros / e lá ao longe alvoram alvoradas». Quero eu dizer: se o
natal, em António Salvado, é nutrice e é natura, Salvado não constrange,
dessarte, a Natureza, o Poeta é essente e não e nanja o tenente, é frade e Frei,
o Salvado, de todo o ser senciente……………….
Que me perdoe, agora, o ledor,
que me releve, na Ágora, o excurso e o curso. Pois prestes a findar, uma
questa, ou demanda, da Pitagórica, ou sófica, Numerologia. António Salvado, o
Vate albicastrense, foi nado, para as Musas, a 20 de Fevereiro de 1936: ora,
para o Número do Destino, 20 + 2 + 1936 = 1936 + 22 = 1958 – e os dígitos
somando, 1 + 9 + 5 + 8 = 10 + 13 = 23; a delicadeza, a discrição do número 2 é
expressa, na imprensa, através do número 3. Por vocábulos outros, os seus liames,
lianças, ligações, levam, Salvado, à Liberdade liberal. Mas indo ao pormenor, 2
+ 3 = 5 – e temos, aqui, o Éter, quintessência, o chamado Quinto Império. Em
Numerologia Comparada, 5 é também o Caminho de Vida do Escritor, e Poeta,
António Cândido Franco. Representa, outrossim, os Números de Vida de Charles
Darwin, Marlon Brando, e do Benjamin Franklin. Pra não falar, aqui, do Vincent
Van Gogh. Pois 5 é o número de Mercúrio, é o Hermes, o Thoth, e o Sumo Sacerdote.
A Rosa, maviosa, no centro da Cruz. E alembremos, também, o Quinto Evangelho, o
Eterno Evangelho de Joaquim de Fiore. Os símbolos, na mensagem, não mentem:
filho de Maia e Jovis Pater, Mercúrio é magíster, Mercúrio faz a ponte entre o
Céu e a terra. Porque a palavra «anjo», em grego ( eles dizem «ággelos» ),
significa «mensageiro». E o Sumo Sacerdote indica, ou tipifica, aquele que
ensina ou que abençoa, o aliado e ligado, deveras, à Religião, à Sabedoria, à facunda,
forte e fértil Filosofia. Pois o clérigo é o «clerc» e o «clerk» é clerezia. E a
talho de foice, concordamos, caroal, com Álvaro Ribeiro: o problema da
Filosofia Portuguesa é também o lema, e emblema, da educação nacional. Propalemos,
portanto, o Pentagrama, o lema e emblema do Áugure pítico. Que os quatro dedos
da mão humana realizam preensão através do polegar – e comanda, certeira, a cabeça,
os dous braços e duas pernas. Mas há mais, ainda mais: 5 x 10 = 50, e «Pentecostes»,
em grego, significa, ou quer dizer, o «quinquagésimo dia». Celebra-se, essa
festa, 50 dias depois da Páscoa, e ela avoca, ou comemora, a descida do
Espírito Santo sobre os Apóstolos, reunidos, adrede, no Cenáculo ( Act 2: 4 ).
Foi nesse primeiro Pentecostes, depois da morte de Jesus, que foi nada, ou
nasceu, a Igreja Católica – e daí o Paracleto, e daí o seu carácter pneumatológico.
Mas quanto à Missão de António
Salvado, 20 + 2 = 22 – e é, o Tau, a vigésima segunda letra do alfabeto
hebraico; ela apresenta, na crisologia, a Cruz em forma de T. Ela é,
simbolicamente, a Cruz com asas egípcia, a Cruz ansada do hermetismo e o «Ankh»,
afinal, do povo das pirâmides; assinala, para os Antigos, a imortalidade. E Tau
significa, também, o «sendeiro» ou a «senda», a «Via Crucis – Via Lucis». Se
alia aqui, o Doutor, à Sabedoria divina: o Tau pertence, exclusivamente, aos
Iniciados, e Adeptos, de cada país. São 22 os capítulos do feraz Apocalipse,
22, dessarte, os Arcanos Maiores, 22 as letras do alfabeto hebraico. Que apodo
e chamo, ao Nume 22, uma grande, grande Luz, o número, alteado, do Construtor das
Catedrais. Como é a «Ars Magna», o Arquitecto, aquele que se dedica à
conceição, e construção, das obras concretas. E prosseguindo, com alor, na
pitagórica ciência: nascido e nado em dia 20, é, o Salvado, pessoa calorosa, e
deveras generosa. Se o 2 é o símbolo do casal, degusta e gosta, o nosso Poeta,
de se sentir amado, acarinhado e protegido; ele não procura o poder, mas sim e
em vez disso a associação. Ele gosta de colaborar e também de se integrar; em busca
maviosa de Amor e harmonia, demanda, este emotivo, o acorde, o cor e a concórdia.
Uma das suas missões, senão a principal, é ser, no plectro, um criador de Paz,
é forjar, de feito, os consensos, e evitar as desavenças. Daí que ele preze,
ademais, o sentido e o senso comunitário, ele ama, muito e muito, a vida em família.
É que o 20, portanto, porta a Música, a Lira, e a Beleza em geral. Aquele que colecciona
no canto, no tempo, e Templo das Musas, o Professor, museologista ou
bibliotecário. E tudo o que é arteiro, o
artifício, artefacto, a Arte e a Música esperam por ele. E se os números são os
nomes, e os nomes são os Numes, vamos ora apurar a Personalidade de António
Salvado. Somando as letras, 34 + 20 = 54, e 5 + 4 = 9. O 9 é o mais elevado dos
algarismos elementares, ele é, por isso, o portador da Boa Nova. Ou melhor: dedicado
ao projecto, e ao prospecto humanitário, ele é a signa e a sina da consciência
grupal, sinala as pessoas universalistas ou idealistas, e que anelam, por isso,
o mundo mudar. Muitas vezes são beneficentes, emotivas, e fortemente missionárias,
demandam a Luz, a ciência e a expansão da consciência. Salvado, por isso, é
espiritualista e altruísta, ele é, do Cristo, o «go-between» ou porta-voz. E
homem do estudo, e não e nanja do Estado, ele está fora do rude, ele busca, em
Belas-Artes, erudição. E sendo António Salvado o nome do publicista, o nome que
o marca, enquanto indivíduo, é, no Fado, António Forte Salvado. E adicionando,
dessarte, os números de «Forte», 6 + 6 + 9 + 2 + 5 = 21 + 7 = 28, sendo, desta
sorte, 54 + 28 = 82, e, desse modo, 8 + 2 = 10. Ora a décima letra do alfabeto
hebraico, ela é fecunda, forte e firme, ela é, seguramente, a primeira letra do
Tetragrama Sagrado, que no Livro do Êxodo, 3: 14, se escreve YHWH, Yod, Hé, Vau
e Hé, que significa «Javé», ou, então, «Eu sou Aquele que sou»; e eis o nome,
para os hebraicos, do Deus Adonai. Que
em joanino Apocalipse, em 1: 4 e 4: 8, é descrito desta sorte: «Aquele que é,
que era e que há-de vir.» Simboliza, o Yod, a vis criacionista, o poder
manifesto na mão do homem, ou melhor, no seu dedo indicador. Mas 1 + 0 = 1. Se
esse 1 indica solidão, solidez e precisão nos objectivos, o Ser enquanto Ser é
pois o lema, o emblema, do nosso publicista, ou melhor, sendo centrado,
concentrado e criativo, é um ledo e é um «leader» António Salvado. O 1, aqui, vai
autonomizar, mitigar, e tornar varonil, o que dissemos, dessarte, acerca do 20.
A mónada, por isso, assume o comando, a direcção, o espírito, esperto, da
inspiração. Por vocábulos outros, o 1 dá ao Vate o pioneirismo, energia, a
grande e grandiosa força de vontade. Regra geral, no seu trilho, ou demanda,
não gosta, Salvado, de seguir os modelos, ele tende, na senda, a desbravar caminho virgem. E por isso ele é Actor. E
buscando, sempre e sempre, a originalidade, ele atinge a autarquia de que falam
os Estóicos. Um homem como este só poderá, de feito, ser liberal ou libertário,
professar, desse modo, as Artes Liberais.
Depurando, e acurando, a missão
de Salvado, nós temos o seguinte: 20 de Fevereiro corresponde ao início do
signo de Peixes. E no signo de Peixes, situa-se Neptuno. Sendo o símbolo da
receptividade passiva, Neptuno confere, ao António, intuição, mediunidade,
inspiração, ou melhor: Salvado é meio, ou instrumento, nas mãos de forças e
poderes que em muito o transcendem, ele é médium, desse modo, do Verbo divinal.
Ou melhor: se o homem, corriqueiro, possui o talento, o génio, afinal, é aquilo
que nos possui. Pois seguindo e segundo o discípulo de Sócrates, os Poetas, coribantes,
videntes e rapsodos são os entusiasmados, são plasmados e tomados por o Espírito
Paracleto. E graças a Posídon, nós temos, então: fortemente idealista, Salvado
está ligado ao espiritualismo, à renúncia e abnegação, à Musa, dessarte, e à
Música do carme. Aqui temos, sobremaneira, o Poeta e o Vate como Vidente,
aquele que indica, indicia, ou nomeia o sagrado. Quero eu dizer: como gota de
água deitada no oceano, Salvado pertence, ele, sacral, à «communio» universal
de todos os homens da terra, ele comunica, faz parte e participa no lectivo,
colectivo inconsciente. E como firma e afirma o Tertuliano, em seu «Tratado
Sobre o Baptismo»: renascido das águas por a força baptismal, o cristão é
comparável a um peixe pequenino, à imagem, caroal, de Cristo Jesus. Pois mais
do que projécteis, ou armas de arremesso, as palavras são navios, são palavras
as naus pra António Salvado. Pois em viático, em via, em Verdade e a vida,
pertence o Vate a um país de aventureiros e nautas. E como asserta, acertando,
a Kabbalah fonética: as letras que compõem a palavra «Ichtus» ( «verbi gratia»,
«peixe» em grego ), são as iniciais de outras tantas palavras que assinalam o
seguinte: «Iesus Christós, Theou Yios Soter», que significa, afinal, no vernáculo
português: «Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador». Equipolente na grafia, equivalente,
o «Salvador», à palavra «Salvado».
E estamos, agora, na recta final.
O Poeta, em Salvado, é Sacerdote, e dele exige, a profecia, o sacrário,
sacramento, o sacrifício, o Pão, da Poesia, partido em pequeninos. Prestámos,
então, a menagem, plausível e possível, a um grande, um nome grado nas Letras
lusitanas. Matematicamente, isto é, na «Mathesis Universalis», são ora
cumpridos, em António Salvado, os 65 anos de vida literária. Se a minha escrita
florescer, isto é, se fortificar e frutificar, que se funde, em parabém, que se
funde, albicastrense, o «Centro de Estudos António Salvado» ou «Casa da Poesia
António Salvado» - ou finalmente, e alfim, a «Escola Secundária António Salvado»
- e sejam eles o alento, sejam eles, aladamente, o nutrimento e alimento. Pois
eu louvo, em sua lavra, o alqueive, a leiva, o viço da pletora – e assim sorri
a Musa, meu Deus, e assim se faz a História………………………………..
Que Luz, 21/ 11/ 2020
MISERANDO ATQUE
ELIGENDO
PAULO JORGE BRITO E ABREU
POST SCRIPTUM
Aquilo que exarámos, no fim deste
texto, se carnalizou e concretizou: foi criada, em Castelo Branco, a 07/ 10/
2020, a Associação «Amigos da Casa de António Salvado». A escritura de doação
da sua casa natal à Câmara Municipal de Castelo Branco foi assinada, por o
Poeta, a 12/ 02/ 2020; na Rua d’Ega, números 38 e 40 é que sonhou, foi falante
e foi aflante o Autor, e promotor, de «A Flor e a Noite». Sociedade de homens e
mulheres de boa vontade, os Amigos do nosso Poeta têm por escopo o difundir, e
defender, o património e a memória do Vate albicastrense. António Salvado,
dessarte, sugere e pretende que no rés-do-chão fique instalada, com donaire,
uma Biblioteca infantil e, no primeiro andar, uma Biblioteca de Poesia que abarque,
e abrace, a Música, a Arte e a Museologia. A Casa de António Salvado será também
um local onde se façam tertúlias, se organizem recitais e se dêem conferências.
Ficará, no forro, um arquivo contendo o espólio de missivas e recortes de
jornais atinentes, e concernentes, à vida profissional e literária de António
Salvado. De sublinhar, deveras, e alçar: a reunião de sócios fundadores deste
grémio cultural se deu a 1 de Outubro de 2020, na Universidade Sénior
Albicastrense, tendo presidido à mesa Maria de Lurdes Barata, José Pires e
Costa Alves. Óptima chance pra dilatar, a Cultura, no Norte do País. Pra recitar,
e pra cantar, ao som de uma guitarra.
NOTA BENE
Os números são nomes e os nomes são
Numes, o Escritor é Sacerdote duma Ideia universal. E palavras são espíritos
seguindo e segundo o Pinharanda Gomes. Desta sorte e desta arte, Afonso Lopes Vieira
tinha, na reza, toda a razão: o primeiro dever de cada português é falar e
escrever, escorreita, correcta e rectamente, o «Logos» e a língua Portugalaica –
e essa, na vida, essa a senha e o norte de António Salvado. António Salvado, o
especulativo, isto é, aquele que observa, o Firmamento, com a ajuda de um
espelho. Se outras provas não houvesse da existência de Deus, bastariam, bondosas,
estas duas: a existência das Mães e a resistência, a insistência dos Poetas. Pois
o que está em cima, sideral, é como, afinal, aquilo que está em baixo – e o que
está por fora, de feito, é como aquilo que dentro está. Já o dissemos, noutro
sítio: as Letras, cá em baixo, elas reflectem, ou repetem, as figuras,
celestes, das constelações. Em certo sentido, portanto, são as palavras
impressas que dirigem, ou que regem, a sorte das nações, essas nações serão julgadas
segundo os livros seus. E aqui cito, «verbi gratia», na língua do Lácio: «verba
volant, scripta manent», ou seja, se «as palavras voam, os escritos permanecem»
- e prosseguimos, por isso, no afã, e continuamos a falar de António Salvado. Ele
é, veramente, inteligente, isto é, ele sabe ler, com arte, no coração das
pessoas. Ele sente, como o sentia, outrossim, o solerte Estagirita, que o livro,
afinal, é um ser vivo, atraente e activo. E que no que concerne à Católica eclésia, deveria, a Igreja de Pedro,
se irmanar, e adunar, à Igreja de João. Pois de acordo com esta última, Adonai
criou o mundo com as 22 letras do alfabeto hebraico. E as palavras escritas,
elas são, no portento, como as palavras proferidas: elas regressam, sempre e sempre,
ao seu ponto de partida. Ou melhor: o Arcano, como vimos, do Papa, concernente
e atinente a António Salvado, ele indica, ou indicia, o cunho e o carácter do
nosso albicastrense: é que há 84 anos que ele ensina, alimenta, que ele ajuda e
abençoa. E só nos resta, a nós, a sorte metafísica, só nos resta, a nós, o mirá-lo
e admirá-lo.
Nos seja lícito, e explícito,
afirmar e dizer: depois de lermos, de D. Francisco Manuel de Melo, o «Tratado
da Ciência Cabala», resolvemos, dessarte, proceder aos anagramas, transpor e
transmutar as letras contidas no nome do Poeta – e alteamos, e loamos, «António
Forte Salvado». E finalmente e alfim, depois de horas e horas de faina e afã, obtivemos,
com as mesmíssimas letras, o cunho, o carácter, a marca seguinte: «Santa Noite
Vodo Flora». Que o mesmo, agora, é dizer: a estreia do Poeta se dá, em 1955,
com o livro intitulado «A Flor e a Noite». Nos remete, a «Flor», para o mundo venusiano
– e nos remete, a «Noite», para S. João da Cruz, e pra um neo-romantismo de
cariz supra-real. E também, e outrossim: nos remete, a «Santa», para a santidade,
imarcescível, da Metaciência – nos reenvia, o «Vodo», para o Corpo de Cristo, para
o culto, caroal, do Espírito Santo, e para o Pão da Poesia partido em
pequeninos: pois em António Salvado é como, figadal, no Padre Manuel Bernardes.
Sendo pois, o companheiro, aquele que manja, manduca, e come do mesmo Pão – e sendo
ora, a «Fracção do Pão», outro nome, numinoso, para a selecta Eucaristia. Em
escólio breve e leve: se enceta o Cristo, a Sua vida publicista, com as Bodas
de Canaã, nos seja recto, escorreito, e correcto concluir: através do simpósio,
cenáculo ou banquete, se realizam, esponsais, entre o Céu e a Terra – e o Salmo
é pois o almo, e nos educa, o Nazareno, no edível e edule. No viático e via da
vianda que é Sua. E uma vez aqui chegado, trazemos, então, à colação: tanto
António Forte Salvado, como Maria Adelaide Neto Salvado, eles difundem, eles
defendem, o culto, cordial, do Espírito Paracleto – e eis o ápice, o acume e o acme, eis o escol e a escola de
Agostinho da Silva. Seguindo e segundo Joaquim de Fiore ( 1145 – 1202 ), que é,
no santo culto, um dos meus Mestres, a História universal se decide, ou divide,
em três Idades ou eras: a Idade do Pai, a Idade do Filho e a Idade, fraternal,
do Espírito Santo. O lema e emblema, na Idade do Pai, é a lei, o temor, e o
poder absoluto; na Idade do Filho, com o Novo Testamento, se cria, ou constrói,
a Igreja de Cristo, é o «Logos», o Verbo, e a Sabedoria divina – e, finalmente,
na terceira Idade, o que impera, aqui, é
o Amor universal, a Graça redentora, a igualdade, caroal, entre todos os
homens. Quero eu dizer: depois do Antigo Testamento, e do Novo Testamento, a
figura-fulgor ela é, veneranda, o Evangelho Eterno – e eis o cunho e a benesse,
e eis a Boa Nova em António Salvado. Ou melhor: se na Idade do Pai reside o
temor, e portanto a «Torah», se reside, a Fé, na Idade do Filho, decorrerá,
dessarte, a tércia Idade, na Luz e no carme da contemplação. E como corolário
do Evangelho Eterno: a abundância, a partilha e a amizade, a Fraternidade,
lilial, entre todos os povos, e eis o Frade e a Flora, eis a ponte e a porta em
António Salvado. Se a letra, portanto, é o conteúdo latente, lateja, o Sopro,
no conteúdo manifesto, e eis o «speculum», a esperança do nosso especular. Ora
o Espírito Paracleto se avigora, e comemora, 50 dias depós a Páscoa – e já vimos,
aqui, a simbologia, ou selecto, do número 50. De tal modo que afirmamos: em
Poetas do quilate de António Salvado, Poesia, afinal, não é apenas letradura –
ela é esperta e ela é Esperança, é escritura, mensagem, do Espírito Santo. E temos,
então: os principais propaladores, em Portugal, do pensamento joaquimita, eles
foram, espirituais, os frades franciscanos. E foi sob a égide dos Frades
Menores que a Rainha Santa Isabel instituiu, na lusa gente, as Festas populares
do Consolador. O seu avô Jaime I lhe chamava, com carinho, a «rosa da casa de Aragão»,
ela é frol e é saudosa, é qual Rosa, teosófica, no centro da Cruz. E novamente,
o Quinto Império ou quintessência. Ou
não fosse, em Salvado, dilecta a «Flor Álea», ou não fossem, aqui, as «Rosas de
Pesto». E na reza, na oração, no fulgor criacionista, «jamais pedir mãos emprestadas
para erguer a casa» - e eis o selo e a senha em António Salvado. O dissemos,
com «adresse», há poucochinho: se o domingo da Poesia é do domínio do sagrado,
Salvado é culto, cordial e caroal Construtor das Catedrais. E se temos, neste
Vate, Literatura qual expressão do preternatural, ouçamos, na signa, o seu
lavor e lampejo: «Há enigmas que contribuem, com o seu silêncio, para a iluminação
confidencial d’o que se julga ser o desconhecido.» Quero eu, aqui, certamente asseverar:
na Poesia de Salvado, é como na sessão psicanalítica: é mistério sondar, é
mister o trazer, à luz do dia, os temas recalcados no inconsciente: não hemos
aqui, bem consóror, a Poesia, ou profecia, do grande Herberto Helder???
Um pouco por toda a Obra de
António Salvado, existem, louvados, dous temas e lemas: o preito à Santidade, o
culto, caroal, da genialidade. Ou melhor: a cultura do campo aliada, e ligada,
à cultura das Almas. E nunca será de mais reiterar, ou repetir: realça e sublinha,
o nosso Poeta, a Bondade, beletrista, a Beleza e a Verdade. Que são,
respectivamente, manifestações, ou missões, da Religião, da Arte, duma augusta
e robusta Filosofia. Os três tópicos, e tropos, se encontram, e contam, nos
orbes, e Obras, de S. Paulo, de Orfeu, e Teixeira de Pascoaes. E hemos dito, e
esquadrinhado, que o Génio, portanto, é genuíno e generoso. Ou melhor: que é
inata, nativa e natal, que é ingénita, a Lira, em António Salvado. E que este,
de acordo com uma frase de Almada-Negreiros, tem na vida, mental, uma robusta
missão: o eduzir, reproduzir-se, igual a si próprio. E lavorando em lavaredas ele
entra, numinoso, na galera, ou galeria, de Santo Agostinho, de Sinésio de Cirene,
do Padre, suserano, do Padre Manuel Antunes. E como nos ensina, e doutrina, o Santo
Evangelho: se a vida de Marta é negócio,
e se a vida de Maria é o «otium», a ilação, aqui, é bem clara, e Maria, como António,
tomou a melhor parte. Poesia, portanto, como forma de oração. A imagem como
ponte, ou ligação, entre o mundo sensível e o mundo inteligível. E o Sacerdote qual
docente, e qual doutor, na ciência do sagrado. Aqui a barca, aqui o berço, aqui
o canto e o carme em António Salvado. E quanto ao lente, e ao legente, quem é
ele, afinal, perante esta voz??? Redargo e digo, citando João Belo: «Sou mais Eu
quando Tu és a síntese de Nós.»
NOTA BENE
Este Ensaio é uma versão
aumentada, expurgada e acrisolada de um texto dado a lume no livro intitulado ‘O
caminho se faz por entre a vida…’, «ANTÓNIO SALVADO, COLÓQUIO SOBRE A SUA OBRA
POÉTICA, COMUNICAÇÕES». Propriedade da Câmara Municipal de Castelo Branco, o
volume foi publicitado por RVJ Editores, Lda, no ano sagrado e secreto de 2017.
E bem antes disso, logo, logo em 2014, o mesmo texto foi dado a lume por a
Universidade de Coimbra, mais concretamente no número 11 de «Estudos: Revista
mensal do Centro Académico de Democracia Cristã», a quem fica, o Autor, deveras
penhorado.
LABORARE EST ORARE
AD MAJOREM DEI
GLORIAM
PAZ NA TERRA PARA TODOS
OS SERES
PAULO JORGE BRITO E ABREU
Procurar
Símbolo da HIAL

Hermética Irmandade dos Amigos da Luz
_________________________________

Mais Lido
-
Paulo Jorge Cardoso de Oliveira Brito e Abreu, que usa, desde 2007, o nome literário de Paulo Jorge Brito e Abreu, foi nad...
-
António Cândido Franco, Fernando Grade e Paulo Jorge Brito e Abreu (da esq.ª para a dtª) 2017
-
AVISO A TEMPO POR CAUSA DAS PALAVRAS João Belo, nascido em 1959, é discípulo de Paulo Jorge Brito e Abreu. E usa também o pseudónimo d...