CANÇÃO METAFÍSICA
ao Max Heindel
a William Butler Yeats
ao Percy Bysshe Shelley
IN HOC SIGNO VINCES
Eu vi o Deus perdido
em um país inquieto,
O Deus assassinado
p’lo mortal Voltaire,
E dentro da capela,
já bem ressurrecto,
O negro coração de
Charles Baudelaire.
Esse Deus é que fala
aos justos e aos heróis,
À Luz imaculada, ao Vate verdadeiro;
Chorando em roucos
sons, na vastidão dos Sóis,
Eu vi vertendo pus o
sangue do Cordeiro.
Oiçam-n’O respirar;
na praia mais abjecta
Há mornas prostrações,
delírios de Luar…
E um Anjo me viu e
disse: «Ó grado Poeta,
Não faças dessa Luz a
larva tumular.»
Mas o Deus projectava
na praia uma sombra,
Um misto de Luz e de
grande rebeldia,
E eu espreitei e vi,
deitado numa alfombra,
O demo dormitando em
minha Poesia.
E eis que Deus lhe
disse: «Ó Anjo fulminado,
Tu eras uma vez meu divo
predilecto;
Porém roubaste a Luz,
por causa do pecado
Rastejas como um
verme aos pés do Paracleto.
Eu dei-te a esmeralda
que tinhas na testa,
O verde rubi dessa
grã Sabedoria,
Mas por a tua voz não
ser a voz modesta,
Condenado estás ora
ao mundo da anarquia.»
E então essa
serpente, com voz de trovão,
Encapelou o mar,
encapelou a vida,
E disse sob a forma
de um vil garanhão,
Com olhos flamejantes
e voz de suicida:
«Trabalhei no inferno
pra ter Liberdade,
Sou possesso de
altura, mas vivo num cabo
Onde os homens do mar,
com grã fatalidade,
Encalham os navios e
chamam-me Diabo.
Mas cansado da noite,
do reino das trevas,
Há muito que já
espero uma bela alvorada
Que mude o meu Destino
e me leve onde levas,
Ó Deus imarcescível
do Império do Nada.
E eu só quero dormir,
encostar a cabeça
No seio do meu Pai,
minha Luz da quimera,
E não quero que nada
no mundo me impeça
De ver os rouxinóis e
o Sol da Primavera.»
No Cosmos pois se deu
tal coisa grandiosa:
O Sol uniu-se à Lua,
o cardo uniu-se à Rosa,
E das químicas bodas
do macho coa fêmea
O grão Semeador foi
forte e farto e sêmea.
E eu vi, d’Amor-Almar,
o liberto e o lírio,
O «liber» da Beleza
que é fasto e é fundo,
Como eu vi, numa
Rosa, o Sol, o sal, o círio,
E fora duma Cruz, o
Cristo para o mundo.
Lisboa, 29/ 06/ 1987,
Queluz, 18/ 02/ 2021
AD MAJOREM DEI
GLORIAM
PAULO JORGE BRITO E ABREU
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Símbolo da HIAL

Hermética Irmandade dos Amigos da Luz
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